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A Ascensão de Letícia Ferreira: Artilheira do Cruzeiro e Símbolo de Uma Nova Era no Futebol Feminino
Por Redação Raposa Azul em 16/08/2025 04:13
No cenário do futebol feminino brasileiro, poucas histórias ressoam com a autenticidade e a determinação de Letícia Ferreira. A atacante do Cruzeiro, carinhosamente apelidada de "Penélope Charmosa" pela sua predileção pela cor rosa, personifica a ascensão de uma nova geração de atletas. Contudo, essa paixão por uma tonalidade vibrante agora se funde, e talvez seja superada, pelo profundo apreço ao azul celeste que veste em campo. Sua performance destacada é um dos pilares da campanha histórica das Cabulosas no Campeonato Brasileiro Feminino, um feito que a coloca no centro das atenções.
O apelido, que inicialmente surgiu de uma observação descontraída da colega Byanca Brasil sobre seu estilo pessoal ? unhas pintadas, capinhas de celular e vestuário frequentemente rosa ?, transcendeu a brincadeira e se tornou um símbolo de sua identidade no clube. Letícia, em um gesto de reconhecimento e afeto pela conexão que o nome criou com a torcida e a instituição, planeja eternizá-lo. "Vou tatuar no meu braço a Penélope, porque tem um significado muito importante sobre a minha relação com a torcida, relação com o clube, então eu quero que fique marcado", revela a jogadora, demonstrando a profundidade desse vínculo.
O Berço Esportivo e a Inspiração Familiar
A trajetória de Letícia Ferreira não pode ser compreendida sem um olhar atento às suas raízes. Nascida em uma família onde o esporte é um pilar fundamental, ela é filha de Marcelo, um árbitro assistente experiente, e Elisangela, que nutria o sonho de ser jogadora de futebol. Essa herança familiar, onde a paixão pela bola era uma constante, moldou o caminho da atacante. Seus irmãos, Leonardo e Lucas, completam o trio de "Ls" que inspira a celebração característica de Letícia em campo, formando um "L" com as mãos a cada gol.
Apesar de os irmãos não terem alcançado o mesmo patamar profissional no futebol, o incentivo deles foi crucial para Letícia. A atacante, em tom de brincadeira, mas com um fundo de verdade, reconhece a disparidade de talento dentro de casa: "Eu gosto da resenha, eu brinco com eles (irmãos) que se eles tivessem um pouco do meu futebol, eles teriam conseguido a carreira de jogador". E complementa, com uma perspectiva mais séria sobre o destino e o suporte recebido: "Brincadeiras a parte, chega a ser engraçado mesmo. Todo mundo me pergunta como é ter dois irmãos, ser a única mulher e ser atleta, mas é aquilo, os planos de Deus a gente não entende. Hoje meus irmãos criaram família, têm filhos, seguiram outras profissões, mas eles me deram muito incentivo, muito apoio para estar aqui."
A Força da Periferia e os Primeiros Passos no Campo
A infância de Letícia, na comunidade do Jaraguá, em São Paulo, espelha a realidade de inúmeras jovens brasileiras que sonham com o futebol. Como a única menina em meio a garotos, ela enfrentou barreiras desde cedo. "A minha infância é parecida com a de muitas. A única menina jogando no meio de um monte de homem. Sou de São Paulo, Jaraguá, uma comunidade. Cresci lá, desde que me conheço por gente, sou do Jaraguá, e foi lá na comunidade que comecei a jogar", relata.
A oportunidade de adentrar formalmente o universo da bola surgiu na escolinha social Meninos das Nações. Aos seis anos, após persistência e desejo intenso, Letícia conseguiu uma vaga, mesmo sendo o único elemento feminino em um ambiente predominantemente masculino. "Sempre assisti meus irmãos jogarem. Meus irmãos jogavam na escolinha e eu ia assistir. Quando eu completei seis anos, eu era a única menina da escolinha e eu chorava que via meus irmãos jogando e eu não podia jogar. Uma porque eu era menina e outra porque eu era pequena e lá era escolinha só de meninos. Até que a gente conseguiu que eu entrasse na escolinha e comecei lá", explica. A gratidão aos seus primeiros mentores, Ivan da escolinha no Jaraguá, e Vagnão do Tiger, que a acompanhou do Sub-13 ao Sub-20, é evidente: "Tenho dois treinadores que estão marcados. O primeiro é o Ivan, da escolinha (no Jaraguá). Ele esteve comigo desde os meus seis anos, no início da minha trajetória e o Vagnão, do Tiger, que comecei desde o Sub-13 até o Sub-20, jogando com eles. Os dois têm dedo na minha trajetória."
O Legado dos Pais e a Expectativa de Desempenho
A influência paterna e materna no desenvolvimento de Letícia é notável, não apenas pelo apoio, mas também pela peculiar dinâmica de cobrança. O pai, Marcelo , com sua experiência como árbitro, acompanha de perto e não hesita em "cornetar" a arbitragem, um hábito que a filha compartilha. "Eu lembro como se fosse hoje, eu ia assistir meu pai. Meu pai era bandeira. Eu sempre gostei de acompanhar, sempre assistia meu pai apitando Campeonato Paulista, é bizarro, mas eu sempre fui muito fã do trabalho do meu pai. Eu corneto o árbitro e meu pai também corneta. Quando ele vê a arbitragem errando, ele sempre fala: 'Quando era eu, eu não errava assim'. Quando ele vai me assistir, ele adora cornetar a arbitragem também", descreve Letícia sobre a relação inusitada com o pai.
O suporte familiar, contudo, vem acompanhado de uma cobrança proporcional, algo que Letícia encara como parte do processo. "Nasci no berço do futebol. Minha mãe sempre me apoiou e acompanhou muito. Eu era criança, 5, 6 anos, eu ia para a escolinha, minha mãe me levava, meu pai me levava, eles saiam do trabalho e me levavam. Eles sempre me acompanham. Mas, me apoiam, mas também me dão puxam de orelha. Quando eu erro aquele gol, me cobram: 'Não podia ter errado, tem que fazer o gol'. Mas eu tenho um apoio familiar muito grande", afirma. A mãe, Elisangela, que sonhou em ser jogadora profissional, embora a época não permitisse a mesma visibilidade ao futebol feminino, foi uma atacante ambidestra e continua a influenciar Letícia com suas observações táticas. "Antigamente era muito difícil. O futebol feminino sofria demais e minha mãe não chegou a ser profissional, mas minha mãe era ambidestra, gostava de jogar na frente. Fazia um monte de gol. Minha mãe jogava do meio para frente e aí ela me corneta. Tem que ver. Ela e meu pai, fica a briga dos dois. Meu pai fica: 'Aprendeu com o pai'. Minha mãe fica: 'Aprendeu com a mãe'. Aí eu fico dividida porque meu pai também jogava, mas é muito legal", relata Letícia, evidenciando a saudável disputa parental sobre quem herdou o talento.
O Desafio Atual e as Aspirações Celestes
Com oito gols na temporada, Letícia Ferreira é a principal esperança do Cruzeiro para o confronto decisivo contra o Bragantino, que ocorrerá neste domingo, às 10h30 (de Brasília), no Independência. A partida é crucial para a equipe celeste, que busca uma vaga inédita na semifinal do Brasileirão Feminino, um marco histórico para o clube. A atacante demonstra consciência da responsabilidade que recai sobre o elenco, especialmente diante do investimento realizado na modalidade. "A gente tem obrigação de chegar cada vez mais longe porque teve muito investimento", pontua, sublinhando a seriedade com que a equipe encara seus objetivos.
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