Sinisterra no Cruzeiro: Ex-Técnico Olímpico Exalta 'Drible Endiabrado' e Projeta Sucesso

A chegada de Luis Sinisterra ao Cruzeiro eleva as expectativas da torcida e da comissão técnica. O atacante, que promete ser uma peça fundamental no esquema do clube, já desperta comentários entusiasmados de quem o conhece de perto. Entre as vozes que exaltam seu talento está Javier Torrente, técnico argentino com vasta experiência no futebol sul-americano e campeão olímpico em 2004, quando atuou como auxiliar de Marcelo Bielsa na seleção argentina.

Torrente, o mentor que lançou Sinisterra no cenário profissional em 2016, não poupa elogios ao seu ex-pupilo. Em sua análise, o jogador possui qualidades que o tornam um diferencial em qualquer elenco. "Sinisterra é um jogador que pode dar muitos frutos ao clube que está", afirma o treinador, evidenciando a confiança no potencial do atleta.

A percepção de Torrente sobre o futebol brasileiro reforça a crença no sucesso de Sinisterra na Toca da Raposa. Para ele, o estilo de jogo praticado no país harmoniza perfeitamente com as características do atacante. "O futebol brasileiro é direto, dinâmico, e eu creio que ele vai encaixar muito bem dentro desse modelo", pontua o argentino.

Sinisterra no Cruzeiro: O Aval do Arquiteto de Talentos

A história de Sinisterra com Javier Torrente remonta aos tempos do Once Caldas, na Colômbia. Foi lá que o treinador promoveu três jovens do sub-17 ao time principal, e um deles era Luis Sinisterra, que fez sua estreia profissional com apenas 16 anos. Apesar de terem atuado juntos em apenas dois jogos antes da partida de Torrente para o León, do México, a convivência diária por oito meses permitiu ao técnico observar de perto as qualidades que hoje o fazem apostar no sucesso do atacante.

A principal característica que se destacava em Sinisterra, segundo Torrente, era sua inegável capacidade de drible. O treinador, com cautela, chega a comparar a habilidade do jovem com a de um ícone do futebol brasileiro. "Naquele momento, o principal era a capacidade de desequilíbrio e os gols que marcava. Um jogador rápido, que tinha um drible bastante endiabrado, como nós dizemos. Com cuidado na comparação, um drible do Garrincha... era um garoto com muita capacidade de desequilíbrio, que sabia improvisar e causar dificuldades para o defensor marcar", descreve Torrente, sublinhando a singularidade do talento de Sinisterra.

Dois anos após sua breve passagem pelo Once Caldas, Sinisterra alçou voo para o futebol europeu. Sua trajetória incluiu clubes como Feyenoord, na Holanda, e passagens por Leeds e Bournemouth, na Inglaterra, culminando em convocações para a seleção colombiana. Pelo seu país, o atacante acumulou 18 partidas e cinco gols, sendo presença constante nas listas até o final do ano passado. As lesões sofridas na Inglaterra, contudo, o afastaram das convocações em 2025.

A Força Colombiana na Arena Internacional: Da Holanda à Seleção

O retorno de Sinisterra à América do Sul também visa recolocá-lo em evidência para a Copa do Mundo de 2026. Javier Torrente, que acompanha de perto as Eliminatórias, elogia o desempenho do jogador pela Seleção Colombiana, destacando sua importância para o esquema tático da equipe. "Na seleção colombiana, podemos dizer que é um jogador que dá soluções, que acrescenta habilidade e força ao time colombiano", ressalta o técnico.

A chegada de Sinisterra à Europa, especificamente ao Feyenoord, foi marcada por um início desafiador. Ele começou no time B e chegou a ter seu empréstimo cogitado para a segunda divisão holandesa, com o objetivo de ganhar minutos e se desenvolver. Entretanto, a situação foi barrada por Jaap Stam, ex-zagueiro holandês e então técnico do Feyenoord na temporada 2019/2020. Quem revelou a história foi o jornalista Mikos Gouka, especialista na cobertura do clube holandês, que também citou a contribuição de Arne Slot, atual treinador do Liverpool, para a carreira de Sinisterra.

Gouka narra a decisão crucial de Stam: "Quando o Stam se tornou treinador, o clube disse a ele: 'Temos Luis Sinisterra, mas podemos colocá-lo no segundo nível da liga holandesa'. Stam o observou em um jogo e disse: 'Vamos deixá-lo aqui, ele é muito talentoso'". Posteriormente, Arne Slot aprimorou o jogador. "Depois veio o Slot, que gostava muito dele e o ensinou também a fazer a parte defensiva. Então, o Sinisterra não estava fazendo as coisas somente para o resultado no ataque, mas também para ajudar o resto da equipe", detalha o jornalista.

O Desafio da Premier League e a Busca por Redenção no Cruzeiro

Mikos Gouka descreve o novo reforço do Cruzeiro como um atleta com características raras no cenário mundial, admitindo surpresa com sua passagem relativamente discreta pelo futebol inglês após deixar o Feyenoord. "Luis Sinisterra é um jogador físico e muito talentoso. Ele é muito forte, muito rápido. (...) Ele é um ponta típico, não há muitos jogadores assim no mundo. Ele ainda é um jogador da seleção da Colômbia, ficamos um pouco surpresos por ele não ter tido sucesso total na Premier League", analisa Gouka.

A jornada de Sinisterra na Inglaterra começou com sua transferência para o Leeds, em uma negociação de R$ 138 milhões, que na época representou a venda mais cara da história do Feyenoord. A expectativa em torno de sua chegada era alta, conforme relatado por Jack Lang, do jornal The Athletic. "Quando o Sinisterra chegou à Inglaterra, no Leeds, eu estava animado, porque tinha feito uma ótima temporada pelo Feyenoord. Fez muitos gols - e belos gols, inclusive em competições europeias. Jogador de muita qualidade técnica", comenta Lang.

Na primeira temporada no futebol inglês, Sinisterra marcou sete gols em 32 jogos. Apesar da oscilação da equipe, que acabou rebaixada, ele conseguiu uma nova transferência, desta vez para o Bournemouth, por R$ 140 milhões. Contudo, a sequência desejada não veio. Foram apenas 37 jogos nas duas últimas temporadas, marcadas por três lesões musculares. Jack Lang também aponta a forte concorrência no ataque como um fator limitante para a minutagem do colombiano. "Também pesa o fato de o Bournemouth ter muitos jogadores na posição dele, pelo lado do campo, como o Semenyo, que chegou mais ou menos junto com ele, sem ser muito conhecido, mas está se destacando de uma maneira que o Sinisterra não conseguiu. O Justin Kluivert e o David Brooks...", elenca o jornalista.

A conclusão de Lang é um alerta e um desafio para o atacante: "O Sinisterra não mostrou o futebol dele. Os melhores momentos na Inglaterra foi há três anos, vai precisar buscar seu melhor futebol para mostrar porque os clubes ingleses quiseram ele". O Cruzeiro , portanto, surge como o palco ideal para Luis Sinisterra reencontrar seu auge, reafirmar seu talento e justificar as altas expectativas que o acompanham desde seus primeiros passos no futebol profissional.