Cruzeiro: Análise da Eliminação na Sul-Americana e a Visão de Jardim sobre Elenco e Competitividade

O cenário atual do Cruzeiro, que navega com relativa tranquilidade nas águas do Campeonato Brasileiro, ocupando a terceira posição, e avança com segurança na Copa do Brasil, contrasta vivamente com sua trajetória na Copa Sul-Americana. A recente despedida do torneio continental, marcada por um empate sem gols contra o Unión de Santa Fe-ARG no Mineirão, revelou uma faceta menos brilhante do desempenho celeste e, mais importante, suscitou uma reflexão profunda sobre o planejamento e a composição do elenco.

Apesar do resultado insatisfatório que selou a eliminação, o momento pós-partida foi utilizado pelo técnico Leonardo Jardim para entregar uma análise perspicaz. Em suas palavras, a campanha na competição internacional, embora frustrante, oferece uma "lição" valiosa e inescapável para o futuro do clube. Trata-se de um diagnóstico que transcende o placar de uma única partida, apontando para desafios estruturais que acompanham qualquer equipe com aspirações elevadas no futebol moderno.

A perspectiva do treinador português é clara: para que o Cruzeiro possa, de fato, competir em alto nível em três frentes simultâneas ? a exigente Série A do Campeonato Brasileiro, a imprevisível Copa do Brasil e um torneio internacional ? é imperativo que disponha de um grupo de atletas com maior equilíbrio e capacidade competitiva. Essa observação, vinda de um profissional experiente, ecoa como um alerta sobre a necessidade de um planejamento mais robusto.

A Inevitável Despedida Continental

A trajetória do Cruzeiro na Copa Sul-Americana de 2024 chegou ao fim de forma precoce e, para muitos, decepcionante. O empate em casa contra o time argentino do Unión de Santa Fe, que não alterou o destino da equipe na competição, apenas confirmou uma performance aquém das expectativas. O clube mineiro encerrou sua participação na terceira colocação do Grupo E, acumulando apenas cinco pontos ao longo da fase de grupos.

A liderança do grupo ficou com o Mushuc Runa, enquanto o Palestino garantiu a segunda vaga, qualificando-se para os playoffs do torneio. Este desfecho, para um time do porte e da ambição do Cruzeiro , não pode ser encarado como um mero acidente de percurso. Ele aponta para lacunas que precisam ser compreendidas e endereçadas com urgência, especialmente quando se observa o cenário competitivo global e a densidade do calendário futebolístico.

A eliminação não apenas frustra a torcida e a diretoria, mas também serve como um espelho da necessidade de um olhar mais crítico sobre a composição e a gestão do elenco . A Sul-Americana, embora muitas vezes subestimada, representa um palco onde a profundidade e a versatilidade de um time são testadas de forma incisiva.

Foto: (Alexandre Guzanshei/EM/D.A. Press)

O Diagnóstico Preciso de Leonardo Jardim

Em sua avaliação pós-jogo, Leonardo Jardim não hesitou em expressar a magnitude da experiência vivida na Copa Sul-Americana. O técnico enfatizou que a série de confrontos continentais ofereceu uma "lição muito grande em termos de competitividade", uma constatação que, segundo ele, não se restringe ao Cruzeiro , mas se aplica a qualquer agremiação brasileira que almeje voos mais altos.

A tese de Jardim é direta: "Não é só esta partida. Partidas da Sul-Americana deixam uma lição muito grande em termos de competitividade. Com certeza, não é só o Cruzeiro . Qualquer clube brasileiro que tenha ambições na Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e uma competição internacional, tem que ter um efetivo mais equilibrado para competir nessas três competições?, opinou o treinador. Esta declaração sublinha a complexidade de se manter competitivo em múltiplas frentes, exigindo um planejamento estratégico que vá além da escalação titular.

O português também salientou que, para gerir o apertado calendário e a demanda por resultados, tem sido forçado a recorrer a jovens talentos das categorias de base e a atletas que possuem menor minutagem em campo. Essa prática, embora necessária em certos contextos, não é sustentável para quem almeja a excelência em todas as competições. ?Vocês estão vendo que temos três jovens do sub-20, temos utilizado alguns jogadores que têm jogado menos. Mas para jogar a sério, tem que existir um plantel mais competitivo, e é isso que temos que pensar para o futuro?, argumentou.

A Urgência de um Plantel Robusto e a Visão de Futuro

A reflexão de Jardim sobre a necessidade de um "plantel mais competitivo" e "equilibrado" não é um lamento, mas um chamado à ação. A gestão de um clube com as proporções e as aspirações do Cruzeiro exige uma visão de longo prazo, onde a construção do elenco é um pilar central. Não basta ter um time forte para uma ou duas competições; o objetivo de brigar por títulos em todas as esferas demanda uma profundidade que permita rodagem sem perda significativa de qualidade.

A constatação final do europeu reforça essa ideia: ?Quando o Cruzeiro quiser entrar a sério em três competições, tem que ter um plantel mais equilibrado, na minha opinião, para ser mais competitivo nas três competições?. Essa é a pedra angular para o sucesso duradouro. O investimento em um elenco qualificado e numeroso não é um luxo, mas uma necessidade estratégica para quem deseja se consolidar entre as potências do futebol nacional e sul-americano.

Com a Sul-Americana agora no retrovisor, o foco do Cruzeiro se volta integralmente para os desafios domésticos. No Campeonato Brasileiro, a equipe ocupa a terceira posição, com 17 pontos, e se prepara para um confronto de peso neste domingo, às 19h30 (de Brasília), contra o Palmeiras, no Mineirão. Na Copa do Brasil, a trajetória tem sido mais tranquila, com a eliminação do Vila Nova na terceira fase por um placar agregado de 5 a 0. A expectativa agora se volta para a próxima segunda-feira, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) realizará o sorteio que definirá os confrontos das oitavas de final. A lição da Sul-Americana, contudo, deve permanecer viva na mente dos dirigentes e da comissão técnica, orientando as decisões futuras para que o clube possa, um dia, brilhar em todas as frentes que se propuser a disputar.