Decisão Histórica: Cruzeiro e Máfia Azul Condenados por Morte de Torcedor Adversário

Em um desdobramento judicial de grande impacto, a Justiça de Minas Gerais determinou que o Cruzeiro Esporte Clube e a torcida organizada Máfia Azul paguem, de forma conjunta, uma indenização de R$ 100 mil à mãe de Mateus Freitas Ferreira. O jovem atleticano, de apenas 20 anos, foi fatalmente vitimado após uma emboscada direcionada a um ônibus que transportava torcedores do Atlético, ocorrida em novembro de 2021, na capital mineira. A decisão, no entanto, ainda está sujeita a recurso.

A 22ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte estabeleceu que a agremiação celeste e sua organizada devem arcar solidariamente com os prejuízos causados. Esta determinação se mantém mesmo diante da ausência de participação direta do clube no ataque, sublinhando um princípio de responsabilidade estendida. Importante notar que, em agosto do ano corrente, o pai da vítima já havia sido contemplado com uma indenização de igual valor, R$ 100 mil, em um processo anterior.

Nossa equipe tentou contato com a diretoria do Cruzeiro para obter um posicionamento sobre a recente condenação, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

As Consequências Legais da Violência no Futebol

A tragédia que ceifou a vida de Mateus ocorreu quando o ônibus em que ele viajava, após acompanhar uma partida entre Atlético-MG e Fluminense, foi brutalmente interceptado por membros da organizada. O cerco ao veículo, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, transformou-se em um cenário de agressão com paus, barras de ferro, foguetes e coquetéis molotov. Na tentativa desesperada de escapar, Mateus foi perseguido, violentamente espancado, e infelizmente, não resistiu aos ferimentos.

A fundamentação da Justiça considerou que as torcidas organizadas podem ser responsabilizadas pelos atos violentos praticados por seus integrantes. Este entendimento se aplica mesmo quando as agressões ocorrem distantes dos estádios ou fora do período de realização dos jogos, reforçando a necessidade de controle e responsabilização por parte dessas entidades.

Além disso, a sentença apontou a corresponsabilidade do Cruzeiro pelo crime, em conformidade com a Lei do Esporte. Esta legislação é clara ao prever sanções aos clubes quando torcidas que mantêm vínculo com eles se envolvem em atos de violência, estabelecendo um elo de responsabilidade que transcende o campo de jogo.

O Veredito e a Responsabilidade dos Clubes

Para além do pagamento da indenização principal, os réus foram igualmente condenados ao custeio das despesas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o montante total da condenação. Esta medida acentua o peso financeiro e legal da decisão para as partes envolvidas.

O lamentável episódio remonta ao dia 28 de novembro de 2021, após uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Naquela ocasião, aproximadamente 30 integrantes da organizada emboscaram o ônibus da linha 6350, que transportava cerca de 45 torcedores do Atlético. A violência foi extrema e indiscriminada, causando pânico e destruição.

Conforme relatos da Polícia Militar, os agressores lançaram coquetéis molotov, provocando a destruição do veículo e impedindo a fuga das vítimas que estavam em seu interior. Onze indivíduos ficaram feridos no ataque, e Mateus, infelizmente, teve sua morte cerebral confirmada dois dias após a brutal agressão.

O Histórico da Tragédia e as Condenações Anteriores

As investigações subsequentes levaram à prisão de seis homens, que foram posteriormente denunciados pelo Ministério Público por um homicídio consumado e nove tentativas de homicídio, evidenciando a gravidade dos atos cometidos.

Em um desdobramento judicial anterior, ocorrido em maio de 2023, dois dos envolvidos diretamente no ataque já haviam sido condenados. Walker Marcelino Gouveia Lopes recebeu uma pena de 56 anos de prisão, enquanto Gustavo Luiz da Silva foi sentenciado a 61 anos, em um claro sinal da severidade com que a justiça criminal tratou o caso.