Dívida Marcelo Moreno: Entenda Acordo Crucial com Cruzeiro e Pedro Lourenço

Nos bastidores celestes, a complexidade envolvendo os valores devidos a Marcelo Moreno, um dos maiores ídolos recentes do Cruzeiro, tem gerado amplo debate. Esta situação peculiar, que envolve simultaneamente a associação civil e a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) sob a gestão de Pedro Lourenço, demanda uma análise minuciosa para que seus contornos sejam plenamente compreendidos. A forma como este compromisso financeiro, assumido com o ex-atacante, está sendo equacionado revela camadas de acordos e garantias que transcendem o habitual.

A repercussão em torno do empréstimo realizado por Marcelo Moreno ao clube mineiro tem sido intensa. Tanto a entidade associativa quanto a SAF apresentaram seus respectivos posicionamentos sobre o tema. É fundamental, portanto, dissecar os pormenores de como a obrigação financeira para com o artilheiro boliviano está sendo honrada, elucidando a participação de cada parte neste arranjo.

O Nó da Recuperação Judicial e a Garantia Pessoal

A origem da dívida remonta a julho de 2020, quando Marcelo Moreno , em um gesto de notável desprendimento, cedeu aproximadamente 18 milhões de reais ao Cruzeiro . O próprio jogador revelou que este montante provinha de um empréstimo bancário contraído em seu nome. O detalhe crucial desta operação reside no fato de que Pedro Lourenço, à época um influente investidor e hoje o proprietário da SAF do Cruzeiro , figurou como garantidor do pagamento desta dívida junto à instituição financeira, assumindo o papel de fiador.

No âmbito da Recuperação Judicial do Cruzeiro , Marcelo Moreno foi devidamente incluído entre os credores quirografários, na classe III, em virtude do contrato de empréstimo concedido à associação. O valor originalmente reconhecido neste processo foi de R$ 24.985.483. Contudo, em uma movimentação judicial subsequente, o atleta solicitou a atualização desse montante para um patamar superior a R$ 35 milhões, refletindo juros e correções.

A aprovação do plano de pagamento da Recuperação Judicial trouxe consigo uma condição específica para esta classe de credores: a aplicação de um deságio de 75% sobre o valor total incluído. Em termos práticos, isso significaria que Marcelo Moreno , pela via judicial, receberia apenas 25% do valor inicial, o que corresponderia a cerca de R$ 6,2 milhões em números estritamente frios, uma parcela consideravelmente menor do montante original.

Foto: (Alessandra Torres)

Compromissos Paralelos: O Acordo com Pedro Lourenço

É neste ponto que a complexidade se aprofunda e a figura de Pedro Lourenço se torna ainda mais central. Paralelamente ao plano de Recuperação Judicial, um acordo distinto foi estabelecido entre o empresário e Marcelo Moreno . Por meio deste pacto, o atual gestor da SAF comprometeu-se a quitar a diferença entre o valor total da dívida original e o montante a ser recebido pela Recuperação Judicial. Em estimativas iniciais, isso representaria um pagamento adicional de aproximadamente R$ 18,6 milhões, honrando o compromisso assumido como fiador. A relevância desse acordo é tamanha que o próprio ex-atacante chegou a notificar extrajudicialmente o empresário para assegurar o cumprimento da obrigação.

As manifestações oficiais das partes envolvidas esclarecem a natureza dos pagamentos. A associação do Cruzeiro , por intermédio de nota oficial, reiterou que Marcelo Moreno é, de fato, um credor da Recuperação Judicial e que os repasses a ele estão sendo efetuados em estrita conformidade com o plano aprovado. Adicionalmente, a associação enfatizou que quaisquer tratativas ou pagamentos realizados entre Marcelo Moreno e Pedro Lourenço, na condição de garantidor da dívida, não se inserem nas obrigações do plano de Recuperação Judicial.

Em contrapartida, Pedro Lourenço também emitiu um comunicado público, no qual confirmou sua posição de fiador na dívida que envolve Moreno e a associação do Cruzeiro . O gestor da SAF celeste deixou claro que os pagamentos por ele realizados são de caráter pessoal e extraconcursal, ou seja, à parte do processo de Recuperação Judicial. Sua declaração reforça a natureza de sua responsabilidade:

A título de esclarecimento informo que os pagamentos por mim realizados ao Sr. Marcelo Moreno decorrem de dívida do Cruzeiro Esporte Clube (Associação), na qual compareci como fiador. Portanto, são pagamentos extraconcursais realizados pessoalmente em razão de obrigação que assumi através de fiança, tendo sido, na oportunidade, notificado pelo credor quanto à existência desta garantia pessoal e de seus efeitos

O Sacrifício e o Reconhecimento do Ídolo

A magnitude do sacrifício de Marcelo Moreno foi publicamente revelada pelo próprio jogador. Em declarações recentes, o ídolo do clube narrou a ousadia de ter contraído um empréstimo bancário em seu próprio nome para auxiliar o Cruzeiro em um dos momentos mais críticos de sua história, em 2020. Ele confirmou que a quitação deste empréstimo junto ao banco foi integralmente arcada por ele mesmo, sem que o clube tivesse envolvimento direto nesta etapa.

Ninguém sabia. Eu nunca falei para ninguém que tinha feito um empréstimo no banco para ajudar o Cruzeiro em seu pior momento. Tive que arcar depois desses três anos com o valor total do empréstimo, de R$ 22 milhões. Acertei com o meu banco. A dívida do Cruzeiro continuou.

Moreno também destacou a postura de Pedro Lourenço. Segundo o atacante, o empresário fez contato logo após a aquisição da SAF, no ano anterior, com o objetivo de assegurar que honraria o compromisso relacionado à dívida contraída pelo ex-jogador em prol do clube, especialmente durante o período na Série B. Este reconhecimento da dívida e a disposição para saldá-la são pontos cruciais para a compreensão da relação entre as partes.

(Pedro Lourenço) Sabe que me devia, sabe que tinha essa dívida comigo, eu fiz esse grande esforço pelo Cruzeiro no pior momento. Ele falou que não iria me deixar ficar com essa dívida, e está acertando. Está indo pelo caminho que deve ser.

Considerando as dificuldades do Cruzeiro em cumprir seus compromissos financeiros à época, o empréstimo realizado por Moreno à gestão de Sérgio Santos Rodrigues resultou em um crédito total de R$ 33 milhões a ser recebido na Recuperação Judicial, englobando o empréstimo original e outras obrigações pendentes. Esta soma reflete a totalidade dos valores que o clube deve ao seu ex-camisa 9.

Legado e Números de uma Carreira Azul

Marcelo Moreno , com sua trajetória marcante, teve três passagens distintas pelo time mineiro. Sua chegada inicial ao Cruzeiro ocorreu em 2007, após sua saída do Vitória. Permaneceu no clube por duas temporadas, antes de se transferir para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Em 2014, retornou à Toca da Raposa por empréstimo do Grêmio, sagrando-se campeão brasileiro. Em 2020, em um momento de grande necessidade, ele retornou para a disputa da Série B, permanecendo por mais duas temporadas, consolidando sua imagem de ídolo.

Ao longo de sua passagem pelo Cruzeiro , Marcelo Moreno registrou números expressivos, que o colocam em um patamar de destaque na história do clube. Sua capacidade de balançar as redes adversárias o consagrou como o estrangeiro com o maior número de gols marcados pela Raposa, um feito que ecoa em cada curva da história celeste.

Panorama Financeiro da Dívida de Marcelo Moreno

Em sua totalidade, Marcelo Moreno vestiu a camisa do Cruzeiro em 147 oportunidades, balançando as redes 54 vezes. Este número o consagra não apenas como um artilheiro, mas como um símbolo de uma era, o estrangeiro com o maior número de gols pelo clube. A saga de sua dívida, portanto, não é apenas um caso financeiro; é um capítulo que se entrelaça com a história, a lealdade e o futuro de uma das maiores instituições do futebol brasileiro.