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Ex-Presidente do Cruzeiro Alerta: SAF de Torcedores é Ilusão Financeira?

Por Redação Raposa Azul em 31/10/2025 05:42

O arquiteto por trás da transformação do Cruzeiro em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o ex-presidente Sérgio Santos Rodrigues, manifestou severas ressalvas ao projeto "SAFiel", que propõe a conversão do Corinthians em um modelo similar, porém com a inclusão de participação acionária de seus torcedores. Rodrigues, figura central na transação que transferiu o controle da Raposa para Ronaldo em dezembro de 2021, lançou um olhar crítico sobre a sustentabilidade e os perigos inerentes a essa iniciativa.

A proposta do "SAFiel" foi recentemente submetida ao Conselho Deliberativo do Timão, mas na visão do ex-dirigente celeste, a estrutura carece de fundamentos financeiros sólidos para aqueles torcedores que cogitam investir diretamente no clube. Ele argumenta que a realidade do mercado não coaduna com a premissa de que investidores aportariam capital sem deter controle majoritário ou poder de decisão efetivo.

Eu acho que é um pouco irreal iludir o torcedor de que você vai ter um pedaço do seu time. Eu não vislumbro como isso pode dar certo, porque é o que o mercado colocou. Ninguém gasta dinheiro para não ser majoritário, para não tomar decisão.

As Armadilhas Financeiras de Investir no Clube do Coração

O advogado enfatizou um ponto crucial: ao adquirir uma ação, o torcedor automaticamente se vincula não apenas aos êxitos, mas também aos reveses do clube. O risco de comprometimento patrimonial pessoal configura-se como a faceta mais delicada e perigosa dessa modalidade de investimento.

Rodrigues sublinhou a elevada probabilidade de enfrentamento de sérias repercussões financeiras ao se tornar acionista de uma agremiação já carregada por dívidas expressivas, cenário que se aplica ao Corinthians atualmente ? e que era a realidade do Cruzeiro no momento de sua transição para SAF.

Eu jamais recomendaria que alguém gastasse dinheiro, se tornasse sócio de uma empresa, se você não vai poder dar palpite nos rumos dela e ainda pode comprometer seu patrimônio. Se esse clube quebrado já tem R$ 2,5 bilhões, ele vai entrar com a cota a parte dele também?

Poder de Decisão Real ou Mera Ilusão?

Para além das preocupações financeiras, o ex-presidente questionou a verdadeira capacidade de influência que um acionista popular teria. Ele indagou se o torcedor estaria disposto a "comprar sem poder dar palpite efetivo", salientando que muitos podem estar mal informados sobre a real possibilidade de participação nas deliberações do clube.

A análise de Rodrigues ganha peso ao observarmos precedentes no futebol nacional. O Fundo de Investimentos do Galo (FIGA), iniciativa do Atlético-MG, embora não idêntica à SAFiel, apresenta semelhanças em sua proposta de captação de recursos junto a torcedores qualificados e, notavelmente, não alcançou o sucesso esperado.

O Fracasso do FIGA no Atlético-MG: Um Alerta para Modelos Semelhantes

O ex-dirigente do Cruzeiro utilizou o exemplo atleticano para reforçar sua tese:

O próprio Atlético Mineiro seguiu um caminho onde os donos assumiram uma boa parte do investimento e criaram um fundo para vender cotas de R$ 1 milhão. Eles não chegaram nem perto de bater a meta de vendas dessas cotas. Eu acredito que a lógica é essa: independentemente do valor, quem é muito rico não vai desperdiçar dinheiro -- ninguém fica rico fazendo isso. E quem tem pouco dinheiro, para comprometer o patrimônio com algo assim, precisa entender a repercussão que essa decisão pode ter.

O FIGA estabeleceu uma meta ambiciosa de arrecadar R$ 100 milhões com a venda de cotas. Contudo, a realidade da captação foi significativamente inferior ao planejado, como demonstra a tabela abaixo:

Meta de Captação do FIGA Valor Arrecadado (até Jan/2025) Percentual Atingido
R$ 100 milhões R$ 6,17 milhões 6,17%

A discrepância entre o objetivo e o valor efetivamente captado pelo FIGA evidenciou a dificuldade de engajamento do mercado de torcedores, forçando uma intervenção. Rubens Menin, o acionista majoritário do Atlético-MG, assumiu o compromisso de injetar a totalidade dos R$ 100 milhões até o fim de 2026, suprindo a verba que não foi obtida através da participação popular.

As ponderações de Sérgio Santos Rodrigues, embasadas na experiência da SAF do Cruzeiro e corroboradas por casos como o do Atlético-MG, servem como um sério aviso. A promessa de "ter um pedaço do time" pode, na prática, se revelar uma armadilha, expondo o torcedor a riscos financeiros consideráveis sem oferecer, em contrapartida, um poder de decisão que justifique o investimento. O mercado do futebol, em sua complexidade, exige cautela e clareza para que a paixão não se transforme em prejuízo.

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