Jardim do Cruzeiro: Crítica Contundente Aos Gramados Brasileiros e o Futuro do Jogo

No último domingo (30), durante sua participação no programa CNN Esportes SA, o comandante técnico do Cruzeiro, Leonardo Jardim, abordou com franqueza uma das questões mais controversas do cenário futebolístico nacional: a expansão das superfícies sintéticas nos campos de jogo. Com projeções indicando que, até 2025, cerca de 30% dos palcos do Campeonato Brasileiro podem ostentar gramados artificiais, Jardim manifestou sua convicção de que essa tendência desvia o futebol brasileiro de um desenvolvimento ideal.

Para o estrategista português, a essência do debate não reside na qualidade intrínseca de uma superfície ou em sua natureza específica, mas sim na imperativa necessidade de padronizar as condições de jogo ao longo de toda a competição.

Ele enfatizou seu ponto de vista, declarando:

?Eu acho que estamos a ir pelo caminho errado. Porque quando falamos em uniformização de gramados, não é isso que estamos a conversar e a debater. O que estamos a debater é que uma liga profissional deve ser jogada nos mesmos tipos de gramados durante todo o campeonato. É isso que estamos a discutir.?

O técnico lusitano sugere que o Brasil deveria tomar como referência os modelos das grandes ligas europeias, onde a implementação de gramados artificiais em estádios de primeira divisão é severamente limitada ou simplesmente não existe.

Em uma explanação detalhada, Jardim questionou a relevância de discutir a qualidade individual de cada gramado, seja ele natural ou sintético, novo ou desgastado. Ele ressaltou:

?Se é sintético, se é um sintético bom, se é um sintético gasto, se é relvado natural? Eu acho que o debate não é esse. O debate é: por exemplo, na Inglaterra é permitido sintético? Não. Espanha permite sintético? Não. Alemanha permite sintético? Itália permite sintético? Não. Portugal permite sintético? Não. França permite sintético? Hoje não sei, mas no meu tempo permitia.?

A Visão de Jardim: Uniformidade de Gramados Essencial

O treinador reafirma que, antes de se aventurar em qualquer iniciativa de modernização, é crucial que a liga defina um padrão único a ser seguido.

Ele foi categórico ao afirmar:

?A gente tem que tomar uma decisão sobre o que queremos fazer. Seja um tipo de piso só, seja qual for, mas que exista um padrão para que a liga tenha um padrão.?

Em um relato que sublinha sua preocupação, o técnico rememorou um episódio marcante desta temporada: o confronto contra o Vitória. A partida, disputada sob um temporal, ocorreu em um campo que Jardim descreveu como totalmente inadequado para a prática do futebol.

Ele detalhou a situação com indignação:

?Por exemplo, este ano joguei um jogo que me deixou extremamente surpreendido: era praticamente uma piscina. Um jogo no 0 a 0, contra o Vitória, piscina. Tivemos a ?felicidade? de que só um jogador partiu a perna; poderiam ter sido dois ou três, e todas as pessoas acharam aquilo muito normal. Numa liga, aquilo não seria permitido.?

O Jogo Contra o Vitória: Um Exemplo Preocupante

Conforme revelado por Jardim, ele chegou a propor ao empresário Pedro Lourenço, conhecido como Pedrinho, que o duelo fosse interrompido.

O treinador compartilhou o diálogo:

?Eu até disse ao Pedrinho, que estava comigo: ?Bem, vamos embora porque não vai haver jogo.? E ele respondeu: ?Não, aqui no Brasil tudo é permitido.? Eu disse: ?Pronto, ok, vamos para o jogo.? E houve só um que partiu a perna. Graças a Deus não foram mais.?

Com uma preocupação evidente pela integridade física dos atletas, o comandante lamentou que, em tais circunstâncias, as decisões tomadas frequentemente negligenciem o impacto direto na carreira e na saúde dos jogadores.

Ele concluiu sua reflexão com um questionamento incisivo:

?Mas o rapaz que partiu a perna? agora ninguém está a pensar na carreira dele, não é? Mas a pessoa que decidiu que podíamos jogar numa situação daquelas? é o futebol. É por isso que eu digo que temos de ter um padrão de decisão.?