Lô Borges e Cruzeiro: Homenagem Póstuma e o Clamor por "Trem Azul" no Mineirão

A despedida de Lô Borges, um dos pilares da música brasileira e notório apaixonado pelo Cruzeiro Esporte Clube, foi marcada por uma comovente demonstração de afeto do clube. O velório, realizado nesta terça-feira (4) no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, permitiu ao público prestar suas últimas homenagens a um ícone. Entre os inúmeros tributos, destacou-se a presença de uma bandeira celeste cuidadosamente disposta sobre o caixão do artista, complementada por uma coroa de flores enviada em nome da própria agremiação, simbolizando uma conexão que transcendia o campo esportivo.

O falecimento de Lô Borges, ocorrido no último domingo (2) na capital mineira, aos 73 anos, devido à falência múltipla de órgãos, silenciou uma das vozes mais influentes do Clube da Esquina. Sua vida, contudo, não se resumiu apenas à genialidade musical; era intrinsecamente ligada à paixão pelo Cruzeiro , um sentimento que ele mesmo reconhecia como fonte de inspiração para suas composições.

A Inspiração Celeste na Arte de Lô Borges

Em uma reveladora entrevista concedida à Revista do Cruzeiro em 1996, o cantor de MPB abriu o coração sobre como o time azul-celeste permeava sua arte. Ele confessou que as emoções vivenciadas com o clube eram um motor criativo, transformando cada vitória ou momento de alegria em um impulso para a criação:

"Chegou a influenciar sim. Eu tinha grandes prazeres com o Cruzeiro e eu tentava transformar aquilo em música. Eu não cheguei a fazer nenhuma música especificamente para o Cruzeiro, mas cada alegria que o time me dava era um motivo para pegar o violão e criar uma coisa nova. Quando você está feliz, com certeza compõe melhor"

, contou o artista.

Mais do que uma mera torcida, Lô Borges nutria um desejo singular: ver uma faixa com os dizeres "Trem Azul", sua clássica composição, eternizada nas arquibancadas do Mineirão, entre os apaixonados torcedores do Cruzeiro . A notícia de seu passamento trouxe à tona, novamente, a discussão entre os cruzeirenses sobre a possibilidade de criar uma melodia para o time que ecoasse o ritmo e a beleza da obra original.

O Sonho de "Trem Azul" no Mineirão e Seu Legado

Na mesma entrevista de 1996, o icônico artista não escondia sua frustração e seu anseio por essa materialização. Ele instigava a nova geração de torcedores a abraçar a ideia:

"Até cobro dos cunhados mais novos, o pessoal da nova geração, o pessoal que frequenta mesmo o Mineirão e cria torcida. Tem uma música minha chamada Trem Azul, que foi gravada pela Elis Regina, pelo Tom Jobim, que seria um ótimo nome para torcida organizada do Cruzeiro. Não sei porque ainda não pegaram este nome. Sou a fim de ver a faixa ?Trem Azul?. Acho que a solução para esta torcida existir vai ser eu mesmo criá-la"

, disse Lô Borges, à época. As palavras de Lô Borges ressoam agora com um peso ainda maior, transformando seu antigo anseio em um verdadeiro clamor por parte da torcida para que seu legado seja honrado de uma forma tão poética e permanente.