Rafael Guanaes: O Talento que Ronaldo Viu e o Cruzeiro Deixou Brilhar

O Campeonato Brasileiro, em sua fase de segundo turno, tem revelado surpresas notáveis, e o Mirassol, um estreante na elite, emerge como uma das mais gratas. A equipe paulista não apenas disputa uma vaga no G-6, mas também se destaca como um dos times com menor número de derrotas na competição. Por trás desse desempenho impressionante, encontra-se o trabalho de Rafael Guanaes, um treinador que, curiosamente, teve sua trajetória cruzada com a do Cruzeiro, atual adversário e ex-clube, ainda sob a gestão de Ronaldo Fenômeno.

Aos 44 anos, Guanaes vive seu momento de maior destaque profissional, uma carreira que teve início antes mesmo de completar 30 anos. Em 2022, a Toca da Raposa se tornou seu lar, quando chegou para integrar a comissão técnica permanente do clube. Essa fase coincidia com um período de profunda reestruturação na Raposa. Após a aquisição da SAF por Ronaldo, o departamento de futebol foi completamente reformulado, com um foco claro na formação de profissionais, tanto dentro quanto fora das quatro linhas, visando reduzir a dependência do mercado.

Nesse contexto de renovação, o nome de Rafael Guanaes surgiu como uma peça estratégica. Pedro Martins, ex-diretor do Cruzeiro , em depoimento ao ge, relembrou a visão que a diretoria tinha sobre o técnico na época:

O Guanaes era um profissional que a gente tinha identificado potencial enorme. Ele chegou para ser auxiliar-técnico da casa e fez uma parte importante do trabalho junto com o Pezzolano.

A Visão Estratégica da SAF sob Ronaldo

A filosofia do Cruzeiro , naquele período, era clara: identificar e desenvolver talentos. Martins complementa, explicando a saída de Guanaes e a continuidade da busca por novos nomes: "Ele recebeu proposta para assumir o Novorizontino e optou por sair. Do mesmo jeito que identificamos o Guanaes, a gente procurou, a todo momento, profissionais com potencial para trazer e terminar de formar dentro do Cruzeiro ". Guanaes, àquela altura, já possuía um currículo como treinador principal, com experiências em clubes do interior paulista, no Athletico-PR e no Tombense. A intenção da Raposa era que ele não só contribuísse com a comissão técnica existente, mas também se preparasse para eventualmente assumir o comando da equipe principal, se necessário.

Pedro Martins detalhou os critérios adotados pela gestão do Cruzeiro ao buscar profissionais para atuar em campo. Ele enfatizou que o estilo de jogo de Guanaes foi um dos elementos que mais chamaram a atenção da diretoria. Os pilares analisados incluíam:

• **Perfil de Liderança:** A forma como o profissional conduzia o dia a dia.
• **Gestão de Vestiário:** A habilidade em gerenciar o ambiente interno do grupo.
• **Relacionamento e Desenvolvimento:** A capacidade de se relacionar e impulsionar o crescimento individual dos atletas.

Além desses aspectos comportamentais, havia uma clara preferência por um modelo de jogo específico. Martins afirmou:

A gente também olhou para o jogo que ele acredita. Um jogo mais intenso, agressivo, um dos pilares importantes para o nosso projeto. Identificamos pontos importantes que poderiam ser desenvolvidos dento da nossa estrutura.

A Trajetória Pós-Cruzeiro e o Sucesso no Mirassol

A passagem de Rafael Guanaes pelo Cruzeiro foi breve, estendendo-se por pouco mais de três meses. Sua jornada na Toca da Raposa foi interrompida por um convite do Novorizontino para assumir a equipe na Série B. Após sua experiência no Tigre, Guanaes comandou o Operário-PR por duas temporadas, onde consistentemente brigou pelo acesso à Série A. Uma rápida passagem pelo Atlético-GO precedeu seu atual e bem-sucedido trabalho no Mirassol.

Na perspectiva de Pedro Martins, a conexão entre Rafael Guanaes e o Mirassol representa um exemplo notável de sinergia entre projetos, o que, para ele, explica o sucesso atual da equipe na Série A. Martins expressou sua satisfação:

Fico muito feliz pelo profissional que ele é, pelo perfil pessoal, e também pelo Mirassol. Gerou uma conexão muito interessante entre o perfil do Guanaes e o projeto do clube. O trabalho que o Mirassol vem fazendo em termos de desenvolvimento, investindo em infraestrutura, em categorias de base... um clube que troca pouco de treinador, que tem pilares bem estabelecidos que acabam regendo o crescimento.

Ele concluiu, reafirmando a relevância de tais exemplos no cenário do futebol:

Exemplos como o Mirassol são sempre positivos e, quando escolhem profissionais quando o Guanaes, eu fico muito feliz, porque é o profissional certo para o clube certo.

A Instabilidade na Toca da Raposa: Um Contraste

Após a saída de Rafael Guanaes, o Cruzeiro optou por manter a estrutura de comissão técnica fixa estabelecida pela gestão de Ronaldo. Paulo Pezzolano permaneceu no comando até o término do Campeonato Mineiro de 2023, sendo posteriormente substituído pelo português Pepa. No entanto, a estabilidade técnica na Raposa não se concretizou.

Meses depois, Pepa cedeu seu posto a Zé Ricardo, que, por sua vez, foi demitido na reta final do Brasileirão. Na ocasião, Fernando Seabra, então técnico do Sub-20, assumiu interinamente a equipe principal ao lado de Paulo Autuori. Com a virada do ano, Nicolás Larcamón foi contratado, mas sua passagem foi breve, deixando o cargo após o Campeonato Estadual. Fernando Seabra, com quem o clube já realizava um trabalho visando seu crescimento dentro da estrutura, retornou à Toca da Raposa para assumir o comando em definitivo. É importante notar que Seabra havia sido demitido do time profissional anteriormente, já sob a gestão de Pedro Lourenço, e desde o ano passado, comanda o Bragantino. A trajetória de Guanaes, marcada por uma progressão consistente em diferentes clubes, contrasta com a sequência de mudanças no banco de reservas cruzeirense, levantando reflexões sobre a persistência na aposta em talentos e a construção de projetos de longo prazo.